Quarta palestra do 22º Congresso Nacional da Divina Misericórdia
A quarta palestra do 22ª Congresso Nacional da Misericórdia foi ministrada pelo padre Eli Carlos, MIC.
O tema desta palestra foi “Os Sacramentos”. Padre Eli explicou que os sacramentos são a concretização da misericórdia em nossa vida.
Sua misericórdia se estende de geração em geração
A misericórdia de Deus se espalha por toda a terra. No quadro de Jesus Misericordioso os raios são essa misericórdia que se espalham sobre nós. “E a igreja é a portadora desta graça, foi a igreja a quem Jesus confiou a missão de fazer com que esta misericórdia chegue a todos os corações”.
Então padre Eli pergunta: “A misericórdia, através dos sacramentos, já chegou a toda a parte da Terra?”. E ele diz que não, o que significa que a missão da Igreja ainda não terminou. “Enquanto tiver um ser humano que não conheça a Jesus, nós, que somos a Igreja, precisamos continuar batalhando na nossa missão de Apóstolos da Misericórdia.
A Igreja como um Sacramento
Padre Eli recordou com os congressistas quais são os sete sacramentos (batismo, confirmação (ou crisma), confissão, eucaristia, unção dos enfermos, ordem e matrimônio), porém acrescentou que podemos dizer que existe o oitavo sacramento. Ele citou o documento da Igreja chamado Lumen Gentium que diz que a Igreja também é um sacramento de Deus. “Para compreender essa verdade, esta afirmação, nós precisamos compreender o que é um sacramento”.
“De uma maneira muito simples: Sacramento é um sinal sensível da graça de Deus; um sinal sensível através do qual Deus derrama a sua graça em nossa vida”. Um sinal sempre nos comunica algo, nos aponta para uma realidade.
Portanto, nós precisamos compreender os sinais, precisamos compreender os sacramentos. Os sacramentos nos apontam, nos ensinam algo. Eles apontam para Deus! E um sinal sensível significa que é um sinal que se pode ver, que se pode tocar e ouvir. “É um sinal que nos comunica a graça do Senhor”.
E como podemos dizer que a Igreja é um Sacramento? A igreja é um sinal de Deus no mundo? A Igreja é um sinal que nós podemos ver, podemos ouvir?
A igreja é um sinal que transmite para nós e para o mundo a graça de Deus! “E os sacramentos nascem do coração de Jesus, aberto pela lança na Cruz; nascem daquele sangue e água que jorram do coração de nosso Senhor”.
“Todo Sacramento é sinal de misericórdia, todos eles nos oferecem da parte de Deus a sua misericórdia”. “Os sacramentos são presença de Deus em nossa vida, cada um à sua maneira”.
Igreja: corpo e esposa de Cristo
O Catecismo da Igreja nos diz (nº 766) que, da mesma a forma como Eva foi formada do lado de Adão, adormecido, assim a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na Cruz.
Padre Miguel, no seu livro, fala de 2 imagens da igreja: a igreja que é corpo de Cristo e a igreja que é esposa de Cristo.
Quando Adão viu a mulher ele disse: “é carne da minha carne, é osso dos meus ossos”. Neste sentido, o que Jesus poderia dizer da igreja? “É carne de minha carne, é sangue do meu sangue”, diz padre Eli.
E nós somos a igreja, “espiritualmente, somos corpo de Cristo”. Isso é uma grande graça e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade.
Eva era esposa de Adão e da mesma forma, espiritualmente, a igreja é esposa de Cristo. “E como se espera que seja a relação entre os esposos?”, pergunta o sacerdote. “Uma relação de amor!”
“Da parte de Cristo, não temos nenhuma dúvida de que Ele ama a Igreja de todo seu coração, a ponto de ser capaz de entregar a sua própria vida por amor”. E a pergunta séria que nós precisamos constantemente nos fazer é: será que eu estou correspondendo a este amor? Será que eu, como esposa de Cristo, como igreja, vivo esta minha vocação de amor ao meu amado -aquele que por mim deu a vida na Cruz?
Nós, como igreja, somos Sacramento, somos sinais visíveis da graça de Deus. “É para nós que o mundo olha para perceber e reconhecer a graça de Deus. Se nós não formos os portadores da graça e da misericórdia de Deus para o mundo, quem será? Se nós não assumirmos a nossa missão como Apóstolos da Misericórdia, para fazer com que este mundo desperte, quem irá cumprir esta missão? Se nós, que já bebemos na fonte da misericórdia e vivemos este amor esponsal todos os dias, não formos missionários do amor de Deus, quem será? É a nós que Deus confia esta missão de ser igreja, que é presença de Deus.”
Devemos ser uma igreja que não simplesmente é tocada, mas que toca com amor, com Amor de Mãe – o amor de Maria. Devemos ser uma igreja que acolhe, que ama como Maria amou Jesus. Devemos ser uma igreja que não se acomoda, uma igreja, como disse o Papa Francisco, que está com as portas sempre abertas.
Devemos ser uma igreja que caminha sempre como irmãos e irmãs buscando a conversão, buscando realizar a vontade de nosso Senhor. “Onde a igreja está presente, está presente a misericórdia de Deus. Onde você está presente, você é convidado a ser esta presença da misericórdia do Senhor”.
Padre Eli reconhece que isso é um desafio, em meio a tantos desafios que o mundo nos apresenta. “E como ser essa presença misericordiosa de Deus? É fazendo o bem concretamente, anunciando o evangelho, recordando ao mundo que Deus nos ama, que temos um Deus que é amor e misericórdia”.
A igreja vive concretamente esta experiência de misericórdia nos sete Sacramentos.
O sacramento do Batismo
Padre Eli pergunta aos congressistas: “Quem pode ser batizado?” E responde: só pode ser batizado quem nunca foi batizado; só se recebe o batismo uma única vez.
E lembra: “O batismo coloca em um selo que ninguém pode apagar, nem o pior dos pecados”.
“Esta marca de Deus nos dá esperança de que os piores pecadores ainda têm salvação, porque a marca de Deus está nele. Por isso, temos esperança de que nós temos salvação, apesar dos nossos pecados, se trilharmos o caminho da conversão, ou seja, permitindo que essa marca do batismo novamente faça com que eu caminhe em direção ao meu Senhor”.
A marca do batismo, é uma marca de pertença: todo batizado pertence a Deus. E essa marca nunca pode ser adulterada. Pelo batismo pertencemos à igreja, ele apaga de nós a marca do pecado original, faz de nós Igreja, corpo de Cristo.
O palestrante recorda que Padre Miguel diz no seu livro que pelo batismo nos tornamos semelhantes a Jesus Cristo. E recordando o peixe como um símbolo dos cristãos dos primeiros séculos, afirma: o peixe fora da água morre e se nós não vivermos a graça do batismo, morremos espiritualmente. Nós, batizados, somos os peixinhos de Jesus! E apesar de já termos emergido nesta água (do batismo), precisamos constantemente viver nela; por isso todos os anos na Páscoa renovamos o nosso batismo, as nossas promessas, para recordar que pertencemos a nosso Senhor.
O Sacramento da Confirmação (Crisma)
Padre Eli cita que o bem-aventurado padre Miguel nos diz no seu livro que o dia da nossa confirmação, ou seja, do crisma, é o dia do nosso Pentecostes. É o dia que Deus fez com que o Espírito Santo descesse sobre nós com abundância, da mesma forma como veio sobre os apóstolos, junto com a Virgem Maria, no cenáculo.
O Espírito Santo é protagonista neste Sacramento! Os dons do Espírito Santo são 7: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
Sabedoria: saber viver de acordo com a graça de Deus, de acordo com a vontade do Senhor. Não é simplesmente conhecimento, não se adquire apenas lendo livros; a sabedoria é a arte do bem-viver.
Entendimento: nos faz compreender a verdade e a vontade de Deus para nossa vida.
Conselho: não é simplesmente dar conselhos, primeiramente tem que ser um dom para mim; é o dom que me capacita a fazer as escolhas certas, a escolher o bem, a escolher aquilo que edifica, a escolher permanecer na graça do Senhor.
Fortaleza: é o dom que nos ajuda a vencer as tentações e também a perseverar no bem.
Ciência: nos ajuda a compreender a presença de Deus no mundo através daquilo que Deus criou; o dom da ciência nos ajuda a olhar para o céu estrelado, à noite, e louvar a Deus, porque reconhecemos que aquilo é uma maravilha do Senhor.
Piedade: este dom nos ajuda a reconhecer Deus como um pai misericordioso que nos ama. Nos ajuda a entender que Deus não quer nos castigar, mas nos amar. É claro que Deus nos corrige, porque é pai, porque nos ama e não vai nos deixar no erro, mas é um Deus misericordioso.
Temor de Deus: não é ter medo de Deus, mas um profundo respeito.
“Sem os dons Espírito Santo nós não somos capazes de caminhar em direção à santidade”, afirmou Padre Eli, recordando uma frase do padre Miguel em seu livro: “O Sacramento da Confirmação nos faz soldados de Cristo”.
O Sacramento da Penitência
É um Sacramento que manifesta a misericórdia do Senhor. Muitos conseguem se reerguer da lama do pecado através do perdão recebido neste Sacramento.
Quando ouvimos do padre na confissão: “Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, estas não são palavras mágicas, mas são palavras que nós precisamos permitir que toquem verdadeiramente o nosso coração.
O Sacramento da penitência é como um tribunal, mas não um tribunal qualquer, é um tribunal de misericórdia. “A lógica do tribunal de Deus é contrária à lógica do tribunal humano. No tribunal de Deus, que é o Sacramento da Penitência, se eu me reconheço o culpado, saio absolvido, perdoado. Isso é pura misericórdia”.
O Sacramento da Penitência não deve ser para nós um peso, uma obrigação, deve ser uma graça, porque por meio dele eu me encontro com a misericórdia de Deus. É o Sacramento que, após o batismo, nos lava, nos torna semelhantes novamente a Jesus. E precisamos recordar que a misericórdia de Deus a maior do que os nossos pecados.
O Sacramento da Eucaristia
O próprio Jesus quis permanecer no meio de nós! Cada Eucaristia renova o sacrifício de Jesus, renova o seu amor na face da Terra.
Precisamos agradecer ao nosso Deus imensamente por isso, por essa graça que Ele nos concede de podermos participar da santa Missa. Participar da Santa missa é viver o Céu na Terra!
Dois momentos da Santa missa estão intimamente ligados: a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.
Quando nós ouvimos a Palavra na Santa Missa, não estamos ouvindo historinhas, é o próprio Deus quem nos fala, por isso o leitor diz no final: Palavra do Senhor! E a Palavra de Deus é palavra de misericórdia. “E a Palavra merece de nós o mesmo zelo, o mesmo amor que temos pela Eucaristia. Precisamos aprender a comungar a Palavra de Deus. Precisamos aprender a entrar em comunhão com Jesus através da escuta da Palavra”.
O palestrante recomendou: “Principalmente aquelas pessoas que estão impedidas de receber a Eucaristia: comungue da Palavra de Deus, será fonte de bênçãos na tua vida!”
Padre Eli ainda trouxe as palavras de São João Paulo II que dizia: “A igreja vive da Eucaristia”. Portanto, ela é o nosso alimento, sem Eucaristia não tem Igreja, sem a Palavra de Deus não tem Igreja.
Em seguida, padre Eli citou sobre o que Santa Faustina rezava no momento da comunhão: “animada pela Sua bondade, reclino o meu rosto no Seu peito e falo-Lhe de tudo. Em primeiro lugar, falo do que a nenhuma criatura falaria” (Diário 1806).
“Quando recebemos Jesus Eucaristia, este é um momento de intimidade e de amizade, devemos falar a Jesus sobre o que está no nosso coração”.
Conclusão
Padre Eli concluiu sua palestra dizendo que os sacramentos deixam marcas profundas em nós.
“Se você olhar para si neste momento, para o teu coração, vai perceber muitas marcas que a tua história deixou em você, algumas marcas antigas e que talvez te façam sofrer até hoje. O mundo tantas vezes não nos trata com amor, nem com misericórdia; e a indelicadeza daqueles que deveriam nos amar nos fere; temos tantas feridas que nos impedem até mesmo de nos entregarmos mais ao Senhor, de viver mais plenamente a nossa fé... Mas eu quero convidar você a entregar tudo isso nas mãos de Deus, para que prevaleça a marca de Deus na tua vida: a marca do batismo, do crisma, a marca de cada Eucaristia que você já recebeu, a marca de cada perdão que Deus já te ofereceu. Que sejam essas marcas a conduzir a tua vida!”
São as marcas que Deus deu a você, por meio da Igreja, que te dão forças para vencer!